Sejam bem vindos todos os que trazem tochas acesas nas mãos

e também aqueles que como eu, anseiam pela luz.



terça-feira, 29 de junho de 2010

Um pouco da Amazônia que queremos preservar

CURIOSIDADES

Os dois maiores arquipélagos fluviais do mundo estão na Amazônia.



No município de Barcelos (AM), no leito do rio Negro, um conjunto de mais de 700 ilhas forma o arquipélago de Mamirauá - há quem diga que esse número chega a 1.200, dependendo do volume de água do rio. Sua área foi determinada na década de 1990 por pesquisadores da Nasa (agência espacial norte-americana), que informaram ser de 140 quilômetros de extensão por 20 quilômetros de largura. O segundo maior arquipélago fluvial é o de Anavilhanas e situa-se no mesmo estado, nos municípios de Novo Airão e Manaus. Ele também está no rio Negro e é composto por cerca de 400 ilhas, distribuídas por uma área de 100 quilômetros de extensão por 20 quilômetros de largura.De dezembro a junho, a região se enche de água. Animais e plantas precisam se adaptar para sobreviver a essas condições extremas.

Peixes

Ao abrigar a maior bacia fluvial do planeta, a Amazônia reúne também uma grande diversidade de peixes. Estima-se que existam perto de 3 mil espécies nos rios e lagos da região. Cerca de 1.300 espécies já são
conhecidas pelos cientistas, mas há muitas ainda a serem descobertas. Apenas no rio Negro, foram descritas 450. Em toda a Europa, esse número não passa de 200 espécies.

Em muitos rios amazônicos, a quantidade de minerais na água é tão pequena que os peixes dependem quase exclusivamente dos alimentos produzidos na floresta dos arredores. Espécies que comem frutos, como o
tambaqui, movem-se pelos principais cursos de água entre os galhos de árvores submersos.

O menor primata do mundo, o sagui-leãozinho, é nativo da Amazônia
    
Para uma região em que tudo é marcado por um certo gigantismo, a existência esse pequenino animal surpreende. Ele não tem mais que 15 cm  (excluindo os outros 15 centímetros de cauda) e pesa cerca de 130 gramas. Sua alimentação é formada por frutas, folhas e insetos.                                                    
Os indígenas da divisa do Brasil com a Colômbia convivem com eles como animais de estimação, mantendo-os junto da cabeça onde passam o dia procurando por piolhos.


A harpia amazônica é a maior ave de rapina do mundo, com quase um metro de altura.


Ela também é conhecida como gavião-real e chega a medir 97 centímetros de altura - 11 a mais que a água-careca americana. De uma ponta da asa até a outra, a Harpia harpyja pode ter até 2,5 metros e, para sustentar seus 10 quilos, alimenta-se de pequenos roedores e até de macacos. Por causa da destruição de    seu habitat (florestas úmidas), a harpia encontra-se praticamente restrita à Amazônia, uma vez que necessita de grandes áreas de mata preservada para viver. 

Gigante das águas


Na região amazônica vive o maior peixe de água doce do mundo, o pirarucu. Ele pode chegar a 3 metros de comprimento e pesar 200 kg. Carnívora, a espécie possui um ciclo de vida longo, só se reproduzindo a partir do quinto ano de vida. Durante muito tempo, o peixe foi capturado em quantidades acima do limite para o consumo da carne, muito apreciada na região. Como resultado, a espécie entrou em perigo de extinção.

Insetos

Insetos não faltam na Amazônia. Há 60 mil espécies conhecidas, mas a estimativa é de outras 180 mil ainda serem descobertas. Os insetos representam a maior parte da biomassa da fauna amazônica. Acredita-se que um terço deles seja composto de formigas e cupins: uma área igual a um campo de futebol na floresta amazônica pode abrigar oito milhões de formigas e um milhão de cupins. Os pesquisadores atribuem a diversidade e abundância de insetos à grande quantidade de plantas existente na região. Eles são ecologicamente importantes, porque participamdo ciclo de nutrientes da natureza, são fonte de proteínas para os animais e atuam como polinizadores das plantas. Na região amazônica, a fauna de insetos é principalmente ligada à vegetação flutuante: em busca de alimentos, muitas espécies se movimentam nos troncos das árvores, acompanhando a subida e descida das águas.

As mandingueiras da capital paraense garantem resolver qualquer problema com suas "poções mágicas"


Elas afirmam que não existe mal sem cura nesse mundo. Seja doença, dor de amor, solidão, desejo de sorte nos negócios ou simplesmente espantar o mau olhado, basta encostar em suas bancas e relatar o     problema. Em questão de minutos, uma mistura de ervas, raízes, cascas de árvores e partes de animais estará pronta ou uma garrafa com a poção será oferecida. Tudo acompanhado por alguma reza ou ritual a ser feito pelo interessado. Atrair a pessoa amada está entre os pedidos mais comuns, por isso nas bancas não faltam as ervas "folha de chama", "agarradinho-a-ti" e a "venha-a-mim".

A cultura da floresta

Os caboclos ou ribeirinhos constituem uma das populações mais tradicionais da Amazônia. São eles que herdaram as práticas de subsistência dos índios que podem ser observadas até os dias atuais. O termo inicialmente referia-se aos índios destribalizados, que, a partir do século 18, passaram por uma aculturação gradativa. Com o passar do tempo, passou a valer como referência para os descendentes de indígenas e
portugueses e os migrantes de outras regiões do Brasil, que foram expulsos pela seca e crises econômicas de suas terras, e se adaptaram à floresta há várias gerações.
A adaptação dos caboclos às singularidades da Amazônia é notável. Além de reconhecerem os rios,  furos e igarapés como quem anda nas ruas de uma cidade, e acharem  referências nesses locais para se     locomoverem à noite, os caboclos possuem um conhecimento respeitável sobre a fauna, a flora e os produtos que a floresta oferece para a sua subsistência.
Os caboclos sabem quais os melhores meses para a pesca de determinadas espécies de peixes, quais as melhores palhas para a construção, quais os medicamentos que a mata oferece e muito mais.
Para se  locomover, usam as canoas que os índios sempre usaram, capazes de se embrenhar pelas raízes das florestas alagadas sem espantar os peixes. As comunidades ribeirinhas vivem em função do rio, a  maioria muito distantes umas das outras. Também herdaram dos índios a dieta baseada na proteína fornecida por animais silvestres e peixes, o cultivo da mandioca e uma cultura material que inclui ferramentas e utensílios construídos de fibras vegetais, pedra e subprodutos da fauna.

E tem muito mais...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Educando com amor


A maternidade mostrou-me a plenitude. Jamais consegui entender como algumas pessoas conseguem usar, para agredir, a mesma mão que acarinha. Não há coerência nisso.

Ao longo de todos esses anos desde que iniciei minha trajetória maternal, foram tantos os carinhos, tantos afagos, tantos abraços, tantos risos que esses momentos ainda ecoam pelos espaços felizes da morada que abriga minha alma!

Em momentos comuns, como os que acontecem em todos os lares, em que senti vontade de dar umas boas palmadas, olhei aquela criaturinha pequenina precisando ser corrigida e optei por amá-la exatamente como a situação exigia, sem exageros, sem mimos, de forma bem consciente, mas amá-la acima de tudo, corrigindo-a e ensinando-a. Como foi difícil resistir a tentação de me impor pela força mas como foi gratificante fazê-lo desta forma!


Os anos me devolveram de maneira generosa cada gesto de carinho e hoje continuo maravilhada, vejo-as crescidas, sigo resistindo a tentação de me impor pela força e tenho como música de minha vida o som gostoso das gargalhadas que rimos juntas. Descobrimos o aconchego do abraço, o consolo do choro acalmado no colo, o poder do perdão, o equilíbrio trazido pelas palavras ditas com segurança, na hora certa, mesmo que aceitas só um pouco mais tarde. Descobrimos tantas coisas e construímos a cada dia tantos momentos inesquecíveis que minha maternidade tornou-se um constante exercício de gratidão a divindade, que me presenteou com muito mais do que eu merecia.
                                                                                                                                            Malu Rossi

Navegando pelo blog "Não bata, eduque", muito bom por sinal e que presta um excelente serviço de informação a todas as mãezinhas que desejam usar as mãos somente para acarinhar e apontar caminhos, me deparei com esta pequena cartilha abaixo e achei interessante reproduzí-la em minha página, no intuito de que cada vez mais e mais pessoas consigam conciliar educação e amor na formação de seres mais equilibrados e felizes.
Uma boa leitura a todos.

   
                                    Efeitos do castigo físico e humilhante

O que fazer quando os conflitos familiares se convertem numa constante e explodem por qualquer motivo? Como assumir e expressar raiva, medo, frustração ou tristeza, sem ter a impressão de colocar em risco o amor e a confiança? Como formar e educar as crianças sem recorrer ao castigo físico?


Estratégias de educação positiva são aquelas formas educativas que não utilizam a violência física e psicológica e que promovem o desenvolvimento físico, emocional e social dos filhos de forma saudável e participativa.

Educar não é nada fácil. Depois de um dia inteiro de problemas, mães e pais chegam em casa e precisam cuidar dos filhos. E as crianças querem atenção, nem sempre obedecem logo, pedem tudo. É muita pressão.
Nessa hora a palmada ou um tapinha de leve parecem uma boa idéia. Sem que a criança entenda direito, os mesmos pais que dão comida e beijinho de boa noite, de vez em quando aparecem com o chinelo na mão.

Para não apanhar, as crianças passam a preferir a distância e o silêncio. Mentem para evitar brigas, escondem seus erros. Aos poucos, quase nada se resolve sem gritos ou ameaças. E o resultado disso é que as crianças, ao invés de respeitar os pais, ficam com medo deles.

Muitos pais apelam para a violência porque é comum acreditar que é a melhor forma de manter a autoridade e de proteger os filhos. Antigamente se achava que castigos físicos e humilhantes faziam parte da educação. Hoje, se sabe que não é bem assim. Existem formas carinhosas de educar que dão resultado. Reunimos aqui algumas dicas de educação que você pode aliar a estratégias específicas de educação positiva, para garantir ao seu filho um desenvolvimento pacífico, feliz e livre de violência.


1. Se acalme. Respire fundo antes de chamar a atenção do(a) seu(ua) filho(a). Evite discutir os problemas sob o efeito da raiva, pois dizemos coisas inadequadas para a aprendizagem das crianças, que as magoam tanto quanto nos magoariam se fossem dirigidas a nós!

 2. Sempre tente conversar com as crianças, mantendo abertos os canais de comunicação.
Entender porque algo está acontecendo ao conversar com a criança é o primeiro passo para juntos vocês encontrarem a solução!

 3. Mostre à criança o comportamento mais adequado dando o seu próprio exemplo.
Beber suco diretamente da garrafa irá ensiná-lo que esse é um comportamento adequado. Assim como falar mal das pessoas depois de encontrá-las. Seu filho aprenderá muito mais com o seu exemplo do que com o que você diz a ele sobre o que é certo ou errado.
Isso vale também para os pequenos atos de higiene do cotidiano: escovar os dentes, lavar as mãos antes de comer, etc. É mais fácil para a criança criar e manter essa rotina se você também a realiza.

4. Jamais recorra a tapas, insultos ou palavrões.
Como adultos não queremos ser tratados assim quando cometemos um erro... Então não devemos agir assim com nossos filhos! Devemos tratá-los da maneira respeitosa como esperamos ser tratados por nossos colegas, amigos ou pessoas da família, quando nos equivocamos. As crianças são seres humanos como nós!

5. Não deixe que a raiva ou o stress que acumulou por outras razões se manifestem nas discussões com seus filhos.
Seja justo e não espere que as crianças se responsabilizem por coisas que não lhes dizem respeito.

6. Converse sentado, somente com os envolvidos na discussão.

Isso contribui para uma melhor comunicação. Mantenha um tom de voz baixo e calmo, segure as mãos enquanto conversam - o contato físico afetuoso ajuda a gerar maior confiança entre pais e filhos e acalma as crianças.

7. Considere sempre as opiniões e idéias dos (as) seus (as) filhos(as).

Afinal muitas vezes suas explicações pelo ocorrido não são nem escutadas. Tome decisões junto com eles para resolver o problema, comprometendo-os com os resultados esperados. Se o acordo funcionar, dê parabéns. Se não funcionar, avaliem juntos o que aconteceu para melhorar da próxima vez.

8. Valorize e faça observações sobre os aspectos positivos do comportamento deles (as).

Elogios sobre bom comportamento nunca são demais! Cuidado para não atacar a integridade física ou emocional da criança fazendo com que ela sinta que jamais poderá atender suas expectativas!
Ela colocou a roupa suja no cesto de roupas? Elogie. Assim como o desenho que a criança fez, o fato dela ter conseguido colocar a calça sozinha, o fato dela contar uma história para você ou colocar algo no lugar que você pediu.

9. Busque expressar de forma clara quais são os comportamentos que não gosta e te aborrecem.

Explique o motivo de suas decisões e ajude-os a entendê-las e cumpri-las. As regras precisam ser claras e coerentes para que as crianças possam interiorizá-las!

10. "Prevenir é melhor que remediar, sempre”

Gerar espaços de diálogo com as crianças desde pequenos colabora para que dúvidas e problemas sejam solucionados antes do conflito. Integrá-las nas atividades do dia-a-dia evita que tentem chamar a atenção por outros meios.
Você precisa fazer compras e terá que levar com você seu filho pequeno. Você pode deixá-lo ajudar nas compras; conversar com ele sobre o que está comprando – peça-lhe para falar o que ele acha de um determinado produto; se for uma criança mais velha, ela pode ter maior mobilidade e ir pegar outros produtos enquanto você está em outro setor do supermercado.

11. Se sentir que errou e se arrependeu, peça desculpas às crianças. Elas aprendem mais com os exemplos que vivenciam do que com os nossos discursos!
12. Procure compreender a criança e saber o que esperar dela na fase desenvolvimento em que ela se encontra.
Uma criança de 1 ano e meio já consegue se alimentar sozinha e este é um comportamento que deveria ser estimulado pelos pais e/ ou cuidadores. Mas eles devem ter paciência e, ao invés de se irritarem com a “lambança” que a criança irá fazer, estimulá-la a se alimentar por conta própria. Colocar um plástico ou jornais embaixo da cadeira que a criança está comendo torna mais fácil limpar o local depois da refeição.

13. Deixe as conseqüências naturais do comportamento inadequado acontecerem ou aplique conseqüências lógicas.
Conseqüência natural: a criança está brincando de maneira violenta com seus brinquedos. Você a avisa que ele pode se quebrar, mas ela continua a brincar da mesma maneira até que ele finalmente se quebra. Logo em seguida ela pede para você comprar outro. Neste momento, você deve relembrá-la do aviso que lhe foi oferecido e negociar com ela esta nova compra.
Conseqüência lógica: a criança não cumpre com o que foi acordado com os pais sobre xingar os irmãos. Ela, então, ficará no “cantinho do castigo” o tempo adequado para a sua idade.

Importante: conseqüências são diferentes de punições. Estas últimas machucam as crianças, fisicamente e emocionalmente deixando-as com raiva, inseguras e tristes. As conseqüências ensinam. Essa estratégia, no entanto, não deve ser usada quando significar submeter a criança a situação de perigo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

As sacolas plásticas e o meio ambiente

As sacolas plásticas têm futuro?

Com uma queda na produção de 15% nos últimos três anos, as embalagens tradicionais perdem espaço para os modelos ecológicos

Por Sérgio Tauhata 
 
Em cem anos, o plástico passou de herói a vilão - por ironia, devido às mesmas características que popularizaram seu uso. Ser flexível, impermeável, resistente e pouco reativo a produtos químicos virou um problema quando essas qualidades começaram a ser associadas ao apelo do descartável. No Brasil, 90% de 1 bilhão de sacolas que mensalmente embalam produtos em lojas e supermercados vão parar no lixo. A situação já foi pior: há quatro anos, o país consumia 3 bilhões de unidades mensais, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) - e com a mesma taxa de descarte.



90% das sacolas que saem das lojas e supermercados vão parar no lixo.

Devido à fama de produto do mal, as sacolas plásticas têm recebido ataques de várias frentes. O golpe mais recente - e talvez o maior até o momento - foi o anúncio da rede Carrefour de banir esse tipo de embalagem de suas lojas em quatro anos. A decisão inclui as demais bandeiras do grupo: Atacadão e Dia%. "Em 2014, quando o processo estiver implantado em todas as lojas, teremos retirado de circulação 800 milhões de unidades por ano", afirma Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour. Com a mesma preocupação, outras redes do varejo adotam ações semelhantes, embora não tão definitivas. O grupo Fnac, por exemplo, distribui apenas sacolas de plástico biodegradável há cinco anos. Em 2010, deixou de oferecer os modelos maiores de embalagens descartáveis. Como opção, as lojas dispõem de uma bolsa retornável, feita de material reciclado, e que custa R$ 3. "Tivemos uma adesão acima da expectativa nos primeiros meses. Mais de 40% dos clientes passaram a usar o produto", diz Patrícia Nina, diretora de operações da Fnac Brasil.

20% é a projeção de redução no consumo de sacolas plásticas em 2010.

Com o cerco se fechando, o consumo brasileiro de sacolas plásticas cai anualmente. Em 2007, foram produzidas 17,9 bilhões de unidades. No ano seguinte, 16,4 bilhões, 8,4% a menos. Em 2009, 15 bilhões, uma queda de 16%. Neste ano, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) estima uma diminuição de 20%. "As campanhas contra o plástico afetam muito a indústria. O segmento de sacolas descartáveis representa 14% dos negócios do setor", afirma Alfredo Schmitt, presidente da Abief. Sem alternativa, os fabricantes começam a se reciclar. Materiais oxibiodegradáveis, hidrossolúveis e biodegradáveis, que se dissolvem na natureza de três a 36 meses, ganham terreno na mesma velocidade com que o plástico tradicional perde mercado. No ano passado, representaram negócios da ordem de R$ 100 milhões.
As linhas ecológicas já representam 18% das embalagens flexíveis produzidas no país, de acordo com a Res Brasil, representante da marca de aditivos dw2 para a fabricação de polímeros de baixo impacto ambiental. Os compostos comercializados pela Res Brasil, quando acrescentados à fórmula básica do plástico, aceleram a decomposição dos polímeros em até 400 vezes. Ou seja, as sacolas aditivadas são absorvidas pela natureza em até três meses - contra mais de 100 anos da embalagem comum. "Estamos crescendo a um ritmo de 10% ao mês", afirma Eduardo Van Roost, diretor-superintendente da empresa, que espera faturar R$ 5 milhões em 2010.

18% Esse é o percentual que as linhas ecológicas já representam no total de embalagens flexíveis produzidas no país.

Além dos plásticos de degradação rápida, o papel e o papelão ganham relevo entre as opções de substituição ao polímero comum. "Sacolas de papel são o nosso carro-chefe hoje - representam 70% dos nossos itens", afirma Mauricio Groke, diretor comercial da Antilhas, uma das maiores fabricantes brasileiras de embalagens. "Com exceção dos supermercados, há uma tendência das lojas de migrar para esse tipo de solução." O grupo deve investir R$ 10 milhões neste ano e impulsionar pesquisas de novos materiais e produtos. A meta é crescer 16% em 2010.
No mercado desde 1953, a Nobelplast dedicou mais de meio século à fabricação exclusiva de embalagens plásticas. Até despertar para a demanda por sustentabilidade, em 2004. A preocupação ambiental levou a empresa a criar a versão verde do próprio negócio: surgiu então a Nobelpack, com investimentos de R$ 3,5 milhões. "Hoje, 90% das nossas sacolas são produzidas com papel reciclado. Trabalhamos também com matéria-prima certificada, além de plásticos oxibiodegradáveis e biodegradáveis", afirma Beni Adler, diretor-executivo da empresa.

85% a mais custa uma embalagem de papel comparada com a de plástico

O maior impedimento para a troca das sacolas tradicionais por opções menos agressivas ao ambiente é o preço. Cada unidade do plástico comum custa em média 2 centavos de real. "Uma embalagem oxibiodegradável tem valor 20% maior, em média. E uma de papel, é 85% mais cara", compara Groke. O futuro das sacolas está mesmo é nas mãos dos consumidores. Irão comandar a mudança se estiverem realmente dispostos a pagar mais por opções de menor impacto ambiental ou forçar a cadeia produtiva a arcar com essa diferença de custo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Os portadores de deficiência e a inclusão social - PARTE I

A estrutura das sociedades, desde os seus primordios, sempre inabilitou os portadores de deficiência, marginalizando-os e privando-os de liberdade.

A Declaração de Salamanca, em vigor desde 1994, visa regulamentar e proporcionar a inclusão dos portadores de deficiência na sociedade, garantindo-lhes o livre acesso aos mais diversos segmentos que constituem os direitos do cidadão.

O decreto nasceu dos movimentos nacionais e internacionais que têm buscado o consenso para a formatação de uma política de integração e de educação inclusiva, tendo sido seu ápice, a Conferência Mundial de educação Especial, que contou com a participação de 88 países e 25 organizações internacionais, em assembléia geral, na cidade de Salamanca, na Espanha, em Junho de 1994.

O decreto defende amplamente que o portador de necessidades especiais tenha livre acesso as escolas regulares, considerando que "escolas regulares constituem os meios mais eficazes de combate ás ações discriminatórias, criando-se comunidades acolhedoras e alcançando educação para todos, além de proverem educação efetiva e aprimorarem a eficiência" e ainda convoca a "todos os governantes que atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, independentes de suas diferenças ou dificuldades individuais".

Apesar do decreto, pouca coisa mudou desde então. É ingênuo crer que a simples promulgação do mesmo torna-o prático e eficiente. Aplicá-lo, envolve principalmente um minucioso trabalho de reeducação social, possibilitando então, a partir daí, que as leis possam ser cumpridas em toda a sua extensão.

O que vemos desde sempre é o mais completo despreparo para implantação da lei. As escolas acatam o decreto por mera obrigação legal, mas não se preparam para receber o indivíduo portador de necessidades especiais. É preciso preparar a sociedade, criando condições para que as diferenças sejam aceitas e respeitadas, promovendo a verdadeira inclusão social. Uma vez inserido no processo de inclusão, manter os braços abertos para o portador de deficiência é tão importante quanto recebê-lo de braços abertos. 

Pais dedicados e defensores dos direitos dos filhos deficientes devem permanecer atentos à proposta apresentada pelo órgão que se dispõe a recebê-los e garantir que a inclusão será respeitada dia após dia.

Em reuniões de Pais e Amigos dos Portadores de Deficiência, relatos nos dão conta de como os pais enfrentam hoje questões judiciais iniciadas após comprovarem atitudes preconceituosas em relação a seus filhos, praticadas dentro das escolas por professores e colegas de classe. Em muitos casos, a exclusão e o preconceito contra o indivíduo são determinados pelo seu grau de deficiência.

É comum vermos professores que fazerem o caminho inverso ao decreto, excluindo ou ignorando por completo o aluno deficiente e contam, para isto, com a omissão dos respectivos superiores. Não menos raro esses alunos são "deixados de lado" pelos colegas de classe que se negam a incluí-los nos grupos destinados a estudos, nos momentos de recreação e ainda zombam dele evidenciando suas limitações.

Situações assim mostram claramente o amplo despreparo das escolas em lidar com o assunto em questão, uma vez que, não há relatos de estabelecimentos de ensino que promovam cursos, palestras ou treinamentos preparatórios específicos para tornar o profissional apto a receber o portador de deficiência e administrar o desafio de promover-lhe a inclusão escolar. Hoje, poucas escolas e universidades que formam professores abordam adequadamente a questão da deficiência em seus currículos. É responsabilidade da escola preparar o profissional e o ambiente escolar para que a criança deficiente não sofra nenhum tipo de preconceito durante sua permanência no estabelecimento, possibilitando seu aprendizado, ainda que limitado.


 A integração professor-aluno, só ocorre quando há uma visão despida de preconceito, cabendo ao professor favorecer o contínuo desenvolvimento dos alunos com necessidades educativas especiais. Não é tarefa fácil mas é possível, principalmente quando todos os profissionais se encontram comprometidos com a questão.

A interação aluno-aluno traz a tona as diferenças interpessoais, as realidades e experiências distintas que os mesmos trazem do ambiente familiar, a forma como lidam com o diferente, os preconceitos e a falta de paciência em aceitar o outro como ele é. Todos os alunos das classes regulares devem ser orientados sobre a questão das deficiências e as formas de convivência que respeitam as diferenças. Levar os alunos de classes regulares a uma convivência harmoniosa com os colegas portadores de deficiência é uma questão de cidadania. 

Se o indivíduo é portador de necessidades especiais, nada mais natural que ele tenha essas necessidades atendidas de maneira especial, por profissionais também capacitados de maneira especial. Este é o princípio fundamental de sociedade inclusiva.

Sabemos que o processo de exclusão é anterior ao processo da escolarização, iniciando-se no nascimento ou no momento da manifestação de algum tipo de deficiência física ou mental, adquirida ou hereditária, em algum membro da família. Isto ocorre em qualquer tipo de constituição familiar, sejam as tradicionais estruturadas, sejam as produções independentes e congêneres e em todas as classes sociais, com um agravante para as menos favorecidas. Naturalmente que, essa exclusão que acontece no âmbito familiar, já leva para a sala de aula um indivíduo com mais um tipo de deficiência grave: A carência afetiva.

Na verdade, o primeiro passo para a inclusão social deve ocorrer no âmbito familiar, partindo então para o segundo passo que é a inclusão escolar.

Ao entrarem para a escola, as crianças que possuem alguma necessidade educativa especial, devem integrar e participar obrigatoriamente de três estruturas distintas da dinâmica escolar: o ambiente de aprendizagem, a integração professor-aluno e a integração aluno-aluno. Uma vez observada essa integração, é importante analisar se o ambiente é favorecedor, se existe oferta de recursos audiovisuais, se não existem barreiras arquitetônicas, sonoras e visuais de todo o espaço escolar, se existem salas de apoio pedagógico para estimulação e acompanhamento suplementar, se os currículos e estratégias de ensinos estão adequados à realidade dos alunos e se todos que compõem a comunidade escolar estão sensibilizados para atender o portador de deficiência com respeito e consideração. Somente a partir daí, a inclusão escolar deverá ter início.


Quaquer tentativa de inclusão social para portadores de deficiências que não leve em conta as necessidades que o indivíduo apresenta, fere, não só o Decreto de Salamanca, como também a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas, que afirma:

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Quando tudo o que é humano vira tumor/coisa

Importantíssima a mensagem com a qual o texto abaixo nos presenteia de maneira clara e consciente. Reproduzo-o na íntegra em meu blog no intuito de colaborar com sua divulgação para que mais e mais pessoas reflitam os valores que nos tornam humanos ou a ausência dos mesmos, que nos transformam em "coisas". Parabens a ELIANE BRUM.

Ana Hickmann e a humanidade sitiada
Quando tudo o que é humano vira tumor

ELIANE BRUM
 
Reprodução
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
Duas reportagens publicadas na Folha de S. Paulo na semana passada são chocantes pelo que revelam – e pelo despudor com que revelam. A primeira saiu na coluna de Mônica Bergamo. E conta sobre o "produto" Ana Hickmann. A outra é uma matéria sobre uma reunião do Conselho Comunitário de Segurança de Santa Cecília, em São Paulo, assinada por Afonso Benites. Nela, moradores e comerciantes anunciaram uma campanha oposta àquela com que Betinho uniu o país nos anos 90: a deles é para pressionar ONGs e restaurantes a parar de dar comida aos sem-teto que vivem nas calçadas. Nesta, que pode ser chamada de “campanha pela fome”, ou os mendigos morrem de inanição ou vão assombrar ruas fora das fronteiras do bairro.

Pelas reportagens, descobrimos que Ana Hickmann, a modelo e apresentadora da Record, é uma coisa, decidiu ser uma coisa. E que os bons cidadãos de Santa Cecília consideram os mendigos não uma coisa, mas gente. É por ser gente – e não coisas – que devem ser expulsos. Ou desinfetados, como anunciou uma comerciante. Com o despudor de quem tem a certeza de que está do lado certo da força, ela contou que lança desinfetante nos que vivem em frente à sua loja.

Olhamos para Ana Hickmann, fisicamente tão bela, tão perfeita, com pernas de 94 centímetros. "Uma elfa", como diz um amigo meu que um dia a encontrou nos corredores da Record. E aí ouvimos Ana Hickmann falar sobre como vê a si mesma. Ela diz: "Sempre me considerei um produto. Parece cruel, mas é verdade". Diz mais: "O Alê (marido e sócio) me chama de general. Fala que sou truculenta pra caramba. E sou mesmo. Exigente, como sempre foram comigo. Nunca me deram a chance de errar". Alexandre Corrêa, o Alê, dispara uma sequência de frases antológicas sobre a mulher e sócia: "A gente vai entregar para o mercado uma Ana Hickmann diferente, sem esses problemas (referindo-se a dificuldades de dicção, que estão sendo corrigidos por uma fonoaudióloga)"; "A palavra 'perder' não está no nosso dicionário"; "A Ana Hickmann tem que ir para o domingo para matar ou morrer. Tem que acordar todos os dias com sangue nos olhos. Se não odiar o concorrente, você é um frouxo. Com mão mole, não machuca ninguém. Fere, mas não tira a pessoa de combate”. O romantismo foi deixado de lado, ele explica: "por um tempo pra gente investir e enxergar nosso crescimento sem deslumbramento. Porque com romantismo vêm férias em Paris, esquiar em Aspen, fazer compras em Nova York. E o trabalho e as obrigações ficam para trás. Se ficar com 'mela mela', todo problema profissional vira sentimental. O circo pegando fogo e você 'amorzinho', abraçando o outro para se lamentar? Ah, por favor!"

Ana Hickmann e seu sócio-marido falam sobre "o produto Ana Hickmann" sem nenhum pudor. Se dizem o que dizem para um jornal de âmbito nacional, é porque acreditam que estão dizendo aquilo que é certo dizer. Mais do que certo – já que o certo ou errado não parece ser lá uma questão muito relevante nesse contexto: dizem aquilo que é valorizado no discurso contemporâneo. Algo que deveria, no seu modo de ver o mundo, despertar admiração no público. Afinal, eles são "produtos" de um mundo em que tudo pode – e deve – ser coisificado para ser consumido. E tudo o que tem valor só tem valor porque é mercadoria.

Ao contrário de como Ana Hickmann vê a si mesma, os moradores e comerciantes de Santa Cecília não veem os mendigos como "coisas". Se fossem coisas, teriam valor, nem que fosse o valor de vendê-las para a reciclagem. Como são gente, a solução é suspender sua comida. Sim, porque gente come. Ao decidirem interromper o acesso à alimentação, eles acreditam que encontraram a solução para seus problemas. E seus problemas resumem-se a gente que não serve para nada. Nem para virar coisa.

Se alguém contraria esse discurso, em ambos os casos, pode ser acusado de hipócrita. Ou ingênuo. Porque, afinal, é assim que o mundo funciona. Ou você produz, ainda que como mercadoria com alto valor agregado, como é o caso de Ana Hickmann, ou você deve ser eliminados dos olhos e do mundo de quem produz – com desinfetante ou por inanição. Em ambos os casos, o que é humano atrapalha. Tem de ser eliminado da vida do produto Ana Hickmann, tem de ser eliminado das calçadas dos moradores e comerciantes de Santa Cecília.

Na vida do produto Ana Hickmann, são os sentimentos que têm de ser eliminados – os ligados à gente frouxa, pelo menos, que atrapalham o sucesso, já que ódio, ambição, “sangue nos olhos” são valorizados. Devem ser eliminados o romantismo, o erro, a condição falível do humano, o que seu sócio-marido tão bem define como “mela mela”. Na vida cotidiana dos moradores de Santa Cecília, o que tem de ser eliminado é gente que não produz, que não toma banho, que não se veste bem, que faz sujeira, que às vezes é mal-educada, xinga e briga. Gente que pede coisas e não tem dinheiro para pagar pelas coisas.

Ninguém gosta de ver pessoas morando na rua diante de sua casa ou pedindo comida na sua porta. Sempre imaginei que fosse porque o sofrimento do outro, a indignidade desta condição, nos afeta. Ainda que não gostemos também porque algumas dessas pessoas façam sujeira na rua e não se espera que alguém aprecie sujeira diante da sua casa ou da sua loja, o que espanta é achar que não temos nada a ver com isso. Não se trata aqui de achar que todo morador de rua é bonzinho ou de que todo sentimento humano é agradável. Trata-se sim de pensar sobre o que faz com que se acredite que ambos devam ser exterminados – da vida cotidiana do bairro, da vida de cada um.

O que espanta é acreditar que pessoas e sentimentos são sujeira, lixo orgânico, lixo não reciclável – e, portanto, sem valor. O que espanta é que Ana Hickmann se anuncie como produto e isso seja confundido com sucesso. Que pessoas vivam sem condições mínimas e um grupo de pessoas acredite que o que pode fazer de melhor é lhes tirar a comida. Ou que se sinta tão impotente a ponto de acreditar que a fome pode ser a solução. Espanta também que na reunião estivessem presentes representantes de várias instâncias do poder público: polícia, subprefeitura da Sé e guarda civil. E também do hospital Santa Casa. E que nenhuma voz tenha se manifestado contra a proposta.
Descobrir que pessoas como Ana Hickmann se veem como coisas nos dá pistas para compreender o modo como os moradores e comerciantes de Santa Cecília veem os mendigos. É como coisa que Ana Hickmann vai para a TV entreter millhões todo domingo. Ela, que ganha R$ 300 mil por mês de salário, fora todos os produtos que derivam do produto maior, é um exemplo de sucesso, de self-made woman. Ou self-made thing. Se tudo der certo e nenhum sentimento humano indesejável atrapalhar a trajetória do produto, como diz seu sócio-marido, um dia ela será “a Oprah Winfrey do Brasil, loira e de olhos azuis, num país de gente parda”.

Tudo isso é revelado, Ana Hickmann diz que é um produto, os comerciantes de Santa Cecília anunciam que vão deixar os moradores de rua sem comida. Tudo isso é estampado no jornal e, fora uma ou outra repercussão, passa, vira a página. Se passa, sem grandes alardes ou questionamentos, o que isso diz sobre nós? Nós também perdemos o pudor? Por que isso não nos espanta? Significa que é assim que olhamos para o outro e para nós mesmos? Ou achamos que podemos nos safar sem nos posicionarmos diante do mundo? Que isso não nos diz respeito?

Se alguém acredita que essa forma de ver o mundo, a si mesmo e ao outro, com a qual compactuamos em geral por omissão, não afeta sua vida, cada minuto da sua vida, desde que acorda e vai para o trabalho até a hora de ir dormir, está bem iludido. Ou de onde viria toda essa dor de existir, que transformou a depressão numa epidemia mundial? Em algum lugar desse corpo materializado em coisa, reduzido à mercadoria, há um resquício de humanidade. E é essa ínfima porção latejante, encarnada, mas desligada de toda carne que não seja a própria, que dói.

Concordar com Ana Hickmann e com os cidadãos de Santa Cecília é acreditar que nossa humanidade é um tumor que deve ser extirpado de nosso corpo coisificado. Uma sujeira que, como os mendigos, deve ser eliminada por fome e esterilizada com desinfetante. De fome, acho que muitos de nós estão se matando mesmo. Não a fome que vem da falta de comida, mas a que vem da falta de espírito, de transcendência, de sonho, de projeto coletivo, de potência transformadora, de tudo que não é estranho ao humano – só às coisas. Mas a esterilização ou anestesia por medicamentos, esta parece que não está adiantando muito.

A Ana Hickmann e ao seu sócio-marido, desejo que um dia tenham tempo para o que não é da ordem das coisas, mas do humano. Para o romantismo, o sentimento sem serventia ou controle, o vacilo. Que quando o que há de humano em Ana Hickmann errar, a agenda lhe permita se encostar ao ombro do marido e fazer o que chamam de "mela mela". Aos bons cidadãos de Santa Cecília, peço emprestada a fala de um homem sábio que conheci. Ele se chama Muhammad Ashafa e é um líder muçulmano da Nigéria. Uniu-se a um líder cristão num país onde adeptos das duas religiões costumam se matar entre si. Juntos, estes homens que no passado quase mataram um ao outro têm defendido pelo mundo um "dia do perdão". Contei sua história nesta coluna há quase um ano.

Deixo sua mensagem como sugestão de pauta para a próxima reunião do Conselho de Segurança de Santa Cecília, quando pensarem numa alternativa para o seu vizinho da rua que não seja lhes tirar o acesso à comida, uma que inclua ver moradores de rua como gente não descartável, mais parecida com eles mesmos do que gostariam: "Nossa segurança não está baseada nas armas, mas no quanto respeitamos o nosso próximo. Quando meu vizinho está com fome, eu vivo com medo. Se meu filho vai para a escola e o filho do meu vizinho não vai, a segurança do meu filho está em risco. Então devo investir na educação para que o filho do meu vizinho também tenha acesso a uma boa escola, para que ele não vire um marginal, forme uma gangue e queira ferir o meu filho. Devo fazer isso e não me armar e erguer muros entre mim e meu vizinho. Isso vale para as comunidades, para os governos, para cada um de nós. Quando você consegue fazer isso, você consegue dormir em paz. Porque seu vizinho tem condições de se reerguer por conta própria. Enquanto não fizermos isso, o mundo não será um lugar seguro para ninguém".

Um tempo atrás, eu levava minha filha para o aeroporto numa das muitas manhãs cinzentas de São Paulo. Estava frio e garoava. Nós íamos caladas no banco de trás do táxi. De repente, o carro foi obrigado a parar por causa do trânsito. Testemunhamos então uma cena que guardei para a minha vida como um diamante da memória, daqueles que não podem ser comprados ou vendidos. Debaixo da marquise de uma loja, meio encoberto por papelões, um morador de rua erguia um bebê para cima com tanta alegria e tanto amor no olhar que o tempo parecia ter parado com o trânsito. Era um homem mais velho ou parecia mais velho pela brutalidade das ruas. Mas ele estava alheio ao mundo ao seu redor, à sua situação de rua, ao frio e à garoa, a tudo o que aconteceria depois. Seus olhos, seu rosto inteiro, brilhavam a ponto de chamar a atenção de quem passava. Seus olhos brilhavam de alegria pela criança que tinha nas mãos. Naquele momento, ele era um homem sem idade, sem classe social, sem classificação. Naquele momento, ele era só um homem diante do milagre da vida.

O trânsito avançou, o carro seguiu. E a cena ficou encarnada em mim. Desde aquele dia, meses atrás, eu queria contar essa história aqui, mas não encontrava jeito. Lembrei dela agora, diante de tanta gente bruta, com acesso à casa, à educação e a tudo o que o dinheiro pode comprar, mas que perdeu o acesso a si mesma. Nos cantos de mundo, nos cantos da rua, nos cantos de cada um de nós a humanidade resiste. Resiste onde menos se espera, resiste mesmo contra a nossa vontade. Resiste até mesmo quando supostamente atrapalha nossa produção, nossa performance ou nossa “coisicidade”.

Eliane Brum escreve para REVISTA ÉPOCA todas as Segundas-feiras.

A Fome e a miséria


1) A fome mata 24 mil pessoas a cada dia - 70% delas crianças;

2) No mundo de hoje há mais comida do que em qualquer outro momento da história da humanidade;

3) Temos 6,7 bilhões de habitantes, e produzimos mais de 2 bilhões de toneladas de grãos, o que significa que produzimos quase um quilo de grãos por pessoa e por dia no planeta, amplamente suficiente para alimentar a todos;

4) Segundo a FAO o mundo precisaria de US$ 30 bilhões por ano para lutar contra a fome, recursos que significam apenas uma fração do US$ 1,1 trilhão aprovado pelo G-20 para lidar com a recessão mundial;

5) 65% dos famintos vivem em somente sete países;

6) Nos últimos meses irromperam revoltas por causa da fome em 25 países;

7) Os que sobrevivem à fome carregam seqüelas para sempre. A fome mina as vidas e acaba com a capacidade produtiva, enfraquece o sistema imunológico, impede o trabalho e nega a esperança;

8) No mesmo momento em que 1 bilhão de pessoas passando fome, outro 1 bilhão sofre de obesidade por excesso de consumo;

9) Uma criança americana consome o equivalente a 50 crianças africanas da região subsaariana;

10) Cerca de 200 milhões de crianças de países pobres tiveram seu desenvolvimento físico afetado por não ter uma alimentação adequada, segundo o Unicef.


Por que tantos passam fome?


*Dados extraídos do Adital publicado pela Humanitas/Unisinos/Cepat

Instituto Humanitas Unisimos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos unisinos / Centro de pesquisa e apoio aos trabalhadores.






É lamentável que um país como o nosso Brasil, de tantas riquezas e tantas belezas, seja um país sem leis, onde a impunidade impera e nos deixa a mercê das barbáries praticadas pelos criminosos que o nosso código penal sustenta com sua ineficácia.



Malú Rossi